domingo, 15 de março de 2009

Agua doce

Gil Portugal (junho/91)
Toda vida existente na Terra nasceu da água e poderá desaparecer pela própria água, por ser ela um dos elementos indispensáveis ao ecossistema chamado Planeta Terra. No Planeta, 97% de toda água existente são salgadas; do restante, água doce, apenas 0,03% estão fáceis e diretamente disponíveis para o uso do homem nos rios, lagos e subsuperfícies.
No caso particular do Brasil, o seu maior recurso hídrico e também do Mundo, correspondendo a 20% de toda a água doce disponível no planeta, é a bacia Amazônica, que está distante das grandes concentrações urbanas e industriais, o que implica, apesar dos outros recursos do país, tornar a água doce um bem de extremo valor para as demais regiões longes daquela riqueza.
Quantos as águas dos mares e dos oceanos, que são os termostatos do Planeta, e a maior fonte de oxigênio pela fabricação intensa de sua rica flora, via fotossíntese, sua degradação, por processos oriundos da atividade humana, implica no desequilíbrio na biota, prejudicando o fornecimento do oxigênio, bem como de alimentos em geral, pode-se afirmar que o futuro próximo já depende da manutenção da qualidade da água doce, que é rara, e que o futuro, não muito longínquo, da qualidade da água salgada.
Quanto às águas doces dos rios, e subsuperficiais, são essas que devem constituir-se na prioridade imediata no que se refere à sua preservação de qualidade, por que são elas disponíveis e que dia após dia, todos fazem uso, quer direta, quer indiretamente, como indivíduos ou coletivamente, através das atividades industriais, agrícolas, de conforto etc. Em todos os casos, quer se refiram às águas salgadas, quer às doce, os cuidados na preservação implicam uma dívida que temos com as gerações que virão, pois estamos fazendo uso de patrimônio que também lhes pertence.
O homem é o grande consumidor de água doce, quer direta, quer indiretamente. Em números aproximados, temos que o consumo de uma família na cidade é seis vezes maior que de outra família no campo; uma descarga sanitária eqüivale a doze litros, e para encher-se uma banheira ou se lavar uma quantidade de roupas na máquina, o consumo é de 120 litros.
Mas, se compararmos esses consumos, ditos diretos, com os indiretos, a situação é alarmante. Se não vejamos: a feitura de um simples pãozinho demanda 400 litros de água, se considerarmos as necessidades desde o trigo que lhe deu origem. Um quilo de carne corresponde a 18.000 litros de água que foram fornecidos direta ou indiretamente ao animal que lhe deu origem, até a carne estar pronta para o consumo. A produção de uma tonelada de milho requer 1,6 milhões de litros d’água, assim como 2,4 milhões de litros para uma tonelada de borracha sintética e 1,3 milhão para uma toneladas de alumínio. Nas mesmas proporções, estariam os consumos na fabricação de fibras, papel, aço etc.
Daí se depreende que é imprescindível reutilizar a água doce em escala cada vez mais crescente, mas esbarra-se no grande problema que é retornar às águas as suas características mínimas que sirvam a esse propósito, extirpando sua contaminação, ou seja, retirando da água usada os fatores que a poluíram.
No geral, a degradação da qualidade das águas dos rios e lagos deve ser pensada em dois aspectos: o primeiro vem a ser aquele que influencia na cadeia alimentar diretamente, como, por exemplo, pelo transporte de um metal pesado e que irá atingir o homem, elo final da cadeia, afetando a sua saúde; o segundo se refere à qualidade da água propriamente dita, no que diz respeito aos conteúdos orgânicos. A auto depuração das águas dos rios e lagos, principalmente dos rios, felizmente, é notável, no que se refere à auto eliminação de contaminações via matérias e substâncias orgânicas, desde que haja condições adequadas para tal.
Vamos deixar de lado o primeiro aspecto e pensar na degradação que se refere aos conteúdos orgânicos dos corpos d’água. Nesse caso, o elemento fundamental a ser preservado nas águas dos rios e lagos é o oxigênio, e toda degradação orgânica na sua qualidade passa pelo abaixamento da taxa de oxigênio dissolvido, porque, do oxigênio, dependerá a vida animal contida na água e é essa vida animal que realizará a importante missão de fazer funcionar todo um ciclo que propiciará ao homem uma água saudável.
Qualquer perturbação, seja por elemento estranho ou por modificações físicas da massa líquida, que venha direta ou indiretamente a reduzir o oxigênio nela dissolvido, degrada a qualidade da água. Em outras palavras, a polui.
As águas de um rio ou de um lago sustentam ou aumentam a taxa de oxigênio dissolvido através de dois processos: agitação, quando a água capta o oxigênio do ar pelo íntimo contato deste com a superfície líquida e pela fotossíntese, quando a luz solar incide sobre uma vegetação aquática e realiza nela uma reação bioquímica que resulta o oxigênio.
Ao analisarmos individualmente as atividades não naturais, devidas exclusivamente ao homem, que geram alterações, direta ou indiretamente nas taxas de oxigênio dissolvido, no sentido de abaixá-las ou de não mantê-las, ficarão claramente indicados os procedimentos de preservação.
Dessa forma, todas as ações relativas ao emprego de agrotóxicos e adubos, aos desmatamentos, aos efluentes industriais, aos lixos e esgotos domésticos etc. devem corresponder atuações que tenham que ser amenizadas ou compensadas.
Outrossim, quaisquer que sejam as modalidades de degradação, enxergadas pelas suas causas, os esforços de compensação concernentes devem, também, levar em conta a complexidade das condições ambientais, os recursos disponíveis e potenciais e visarem reduzir ao mínimo o aspecto predatório da utilização desses recursos.

Gil Portugal

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